Esse post estava nos meus rascunhos, anos depois resolvi publicar.
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Desde que nos mudamos para a Austria, esse ano de 2012 foi o ano que passamos o maior numero de dias no Brasil. Foram duas viagens e entre os dias que ja se passaram e os de agora em dezembro se somam quase 75 dias de Brasil.
Desde que nos mudamos essa foi a nossa sexta viagem em familia cruzando o Atlantico.
Desde que nos mudamos se passaram quase 4 anos.
Desde que nos mudamos nos esquecemos de como eh viver e sobreviver em uma grande metropole como Sao Paulo.
E no ultimo sabado viemos com toda a nossa programacao de ferias pronta. Os presentes de Natal comprados, as lembrancas para os amigos, os chocolates que fazem agrado na alma, as esperancas renovadas de matar as saudades dos familiares, de fugir do inverno, de aquecer nao so o corpo, mas o espirito renovando as energias para voltar para casa ainda mais feliz.
Engracado que pela primeira vez, sai de Viena com um sentimento estranho. Quando arrumava as coisas que ficaram, por varias vezes me peguei pensando em como seria se eu largasse tudo do jeito que ficou e como seria se eu nao voltasse mais.
Nao sei se era um pressentimento ou somente a dor de se despedir mesmo que brevemente do lar, do nosso aconchego. Cheguei a comentar com o marido e com o filho quando o aviao levantou voo que eu gostaria de ja estar voltando para Viena. Os dois me acharam meio louca por nao querer aproveitar as ferias. Nao sei que tipo de sentimento era aquele. Mas foi diferente do que todas as outras vezes que deixamos a cidade.
Apos nossa tradicional parada em Amsterdam, seguimos viagem para Sao Paulo e tudo correu naturalmente. Aquele sentimento estranho passou e aproveitamos a viagem. A Mariana pela primeira vez deu menos trabalho, assistiu os filmes do aviao, comeu bem, dormiu uma soneca, enfim, tudo normal.
Chegamos em Sao Paulo e apos a chatice de passar pela imigracao e pegar as malas, tomamos um taxi da Cooperativa de taxis de Guarulhos para o Hotel Transamerica que fica bem proximo do aeroporto de Congonhas, pois a nossa proxima viagem sairia no dia seguinte de manha desse aeroporto. Para ficar menos cansativo sempre dormimos uma noite em Sao Paulo antes de seuir viagem.
Quase 1 hora e meia de taxi cruzando a cidade, chegamos no Hotel. O Serginho que estava no banco da frente eh o primeiro a desembarcar, depois o marido e por ultimo saio eu com a Mariana dormindo no meu colo. Assim que eu desci e subi os degraus para o Hall do Hotel percebi um rapaz puxando a minha bolsa que estava no braco do marido. O marido ainda ficou segurando a bolsa e tentando tirar a mao do rapaz que parecia ser da idade do Serginho. Ele nao havia percebido que outro rapaz estava junto e naquele momento estava roubando o relogio do taxista. Eu gritei para o Sergio soltar a bolsa, acordei a Mariana e ele tambem percebeu a arma que estava na outra mao do assaltante menor de idade.
O Serginho que eh muito agil, ao perceber o assalto, jogou a mochila dele para tras de um pilar e tentou pegar a mochila do pai para esconder, porem nesse momento o assaltante maior de idade percebeu e apontou a arma para ele e mandou ele jogar a mochila. Ele jogou e ficamos nos quatro de frente para os dois assaltantes armados.
Eles nao atiraram e fugiram.
Ate aquele momento eu estava muito calma. Por ter trabalhado em banco, cansei de assistir palestras de seguranca e tenho muita serenidade para responder a esses episodios de violencia gratuita. Inclusive ja passei por outros tipos de situacao e nunca sequer me abalei. Nunca reagi a assalto e por isso gritei para o marido soltar minha bolsa, ja que por ele ja entraria em luta corporal com o rapaz, sem pensar muito nas consequencias que essa atitude teria.
Porem dessa vez foi muito diferente. Foram os meus filhos que ficaram expostos a essa violencia. A Mariana que acordou com o meu grito para o marido soltar a bolsa, viu tudo. Ela viu quando o Serginho jogou a mochila e, gracas a Deus, ela nao compreende o que realmente aconteceu. Para ela o Sergio jogou a mochila fora e por isso agora nao tem mais o DVD que estava dentro.
O Serginho porem tem nocao exatamente do risco que ele sofreu, que todos sofremos. Pelo que varias pessoas comentaram depois, os assaltantes nao se contentam somente em levar os seus bens, em seguida eles estao matando, como se somente esse sentimento de impotencia nao fosse dor suficiente para que a gente tenha que superar.
Eu nao consigo imaginar como seria a minha vida nessa segunda-feira de manha caso alguma daquelas duas armas tivessem sido disparadas em qualquer um de nos.